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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Saltou do banco e, com a

Saltou do banco e, com a
estranha carta na mão, dirigiu-se para o quarto de banho. Colocou-se em frente do
espelho, e olhou-se fixamente
nos olhos.
- Eu sou Sofia Amundsen - disse.
A rapariga do espelho nem
sequer respondeu com uma careta. Aquilo que Sofia fizesse, ela fá-lo-ia exactamente da mesma forma. Sofia
procurava adiantar-se em relação ao espelho com um movimento muito rápido, mas a outra era igualmente rápida.
- Quem és tu? - perguntou Sofia.
De novo não recebeu nenhuma resposta, mas por um breve
momento não soube se tinha
sido ela ou o seu reflexo no
espelho a fazer a pergunta.
Sofia tocou com o indicador no nariz reflectido no
espelho e disse:
- Tu és eu.
Não recebendo resposta alguma, inverteu a frase:
- Eu sou tu.
Sofia Amundsen nunca estivera particularmente satisfeita com a sua figura. Ouvia frequentemente dizer que
tinha uns belos olhos de
amêndoa, mas as pessoas diziam-no, sem dúvida, porque o
seu nariz era demasiado pequeno e a boca um pouco grande. Além disso, as orelhas
estavam demasiado junto aos
olhos. Mas o mais grave eram
os cabelos lisos, difíceis de
tratar. Por vezes, o pai
passava a mão pelos seus cabelos e chamava-lhe "a rapariga dos cabelos de linho",
referindo-se a uma composição
de Claude Debussy. Para
ele era fácil dizê-lo, visto
que não estava condenado para
toda vida a ter cabelos compridos e negros, completamente lisos. Nos cabelos de
Sofia nem o gel nem os
sprays faziam efeito.
Por vezes, achava-se tão
estranha que se perguntava se
não seria disforme de nascença. A sua mãe tinha-lhe falado num parto difícil. Mas
seria possível o nascimento
determinar, de facto, a figura de cada um?
Não era estranho que ela
não soubesse quem era? Não
era absurdo não poder decidir
nada quanto à sua figura?
Tinha simplesmente nascido
consigo. Podia escolher os
seus amigos, mas não se escolhera a si mesma. Nunca tinha decidido que queria ser
um ser humano.

O que era um ser humano?
Sofia observou de novo a
rapariga do espelho.
- Vou mas é fazer os meus
trabalhos de biologia - disse, como que desculpando-se.
Em seguida, estava à entrada
da casa.
- Não, prefiro ir para o
jardim - pensou.
- Bichano, bichano, bichano!
Sofia enxotou o gato para
a escada e fechou a porta.

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